Relatório das Palestras: 52ª ASPEN – LOGÍSTICA: MINA – FERROVIA – PORTO

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Categoria: Notícias, Webinar

Aurélio Lamare Soares Murta

Saudações a todos os espectadores que nos acompanham através do nosso canal no YouTube. Cumprimentamos nossos convidados presentes, espalhados por diversas regiões do Brasil, bem como aqueles que participam remotamente. Hoje, estamos sediados na Capitania dos Portos do Espírito Santo, em Vitória, agradecendo à Marinha do Brasil por esta oportunidade. Agradecemos especialmente ao Comandante Capitão Alexander dos Anjos e aos Conselheiros que nos honram com suas presenças.

Admiramos a imponência do Porto de Tubarão, da Vale, notando seu impacto na economia estadual. Reconhecemos o prestígio internacional da Vale, que representa o país globalmente.

Virtualmente, cumprimentamos Rodrigo Vilaça, Paulo Salvador e Fabrício Freitas, por compartilharem seu conhecimento sobre logística e ferrovias. Agradecemos sua valiosa contribuição.

Agradecemos a Fernando Carvalho, Gerente Executivo da Vale, por abordar a cadeia logística da empresa.

Muito obrigada a todos,

Jussara Ribeiro, presidente do Instituto BESC


PALESTRAS

PAULO SALVADOR, diretor executivo da Grão-Pará Maranhão

Porto, Ferrovia e Mineração – Logística e Eficiência Nacional

Esta apresentação se dedica à exposição de informações cruciais referentes à integração da atividade mineradora com os sistemas ferroviários e portuários no contexto brasileiro. A abordagem se desdobra em duas partes distintas. Na primeira, o relatório irá delinear o enfoque geral do tripé composto por mineração, ferrovias e portos, explorando sinergias, desafios e soluções. Na segunda parte, direciona a atenção para o empreendimento do Terminal Portuário de Alcântara e sua conexão com a Ferrovia 317, considerada como uma possível solução logística para viabilizar a exploração de minérios identificados em áreas remotas.

O Brasil ocupa posição proeminente no cenário global de produção de minério de ferro, sendo o segundo maior produtor mundial. Este setor detém relevância significativa para a economia, representando cerca de 9% das exportações do país, logo atrás da soja. As ferrovias emergem como componentes cruciais da cadeia logística mineradora, proporcionando a redução dos tempos de trânsito em até 20-40% para transporte ferroviário, o qual, por sua vez, apresenta custos estimados em até 40% inferiores ao transporte rodoviário para longas distâncias.

A importância da conexão entre as ferrovias e os portos é inegável. Essa interligação eficaz e estratégica viabiliza o transporte contínuo e eficiente das minas até os pontos de exportação, contribuindo para garantir entregas pontuais e regulares. Adicionalmente, a utilização de ferrovias para grandes volumes de minério oferece vantagens substanciais, como redução da pegada de carbono em até 37% em comparação ao transporte rodoviário, além de promover o desenvolvimento econômico regional ao reduzir o tráfego rodoviário pesado.

Portos de águas profundas desempenham um papel vital nesse cenário, atuando como complemento das ferrovias. A capacidade de operações eficientes e profundas, como o Porto da Ponta da Madeira, por exemplo, reduz o custo total da cadeia logística e fortalece a competitividade das exportações minerais. A sincronização harmoniosa entre mineração, ferrovias e portos permite ao Brasil adaptar-se rapidamente às flutuações da demanda global, ampliando ou reduzindo as exportações conforme necessário.

Entretanto, a integração da mineração com ferrovias e portos no Brasil não é isenta de desafios. Muitas ferrovias brasileiras demandam expansão e modernização, enfrentando questões como falta de manutenção, inovação tecnológica e insuficiência de investimentos. Além disso, os projetos de infraestrutura frequentemente esbarram em entraves burocráticos e ambientais, impactando o desenvolvimento e a modernização desses setores. Ademais, as peculiaridades geográficas do país e a localização das minas podem complicar a logística, enquanto as flutuações de demanda e competição pela infraestrutura também representam desafios.

Superar esses desafios demanda investimento significativo em infraestrutura, planejamento coordenado, simplificação de processos burocráticos e regulatórios, e inovação tecnológica. O Terminal Portuário de Alcântara é destacado como um exemplo concreto de esforços em curso nessa direção. Com uma área de 12 milhões de metros quadrados e profundidade natural de 25 metros, este empreendimento possui o potencial de ampliar a capacidade de transporte de minério, beneficiando o setor minerador e a economia como um todo.

Em conclusão, a integração da atividade mineradora com os sistemas ferroviários e portuários no Brasil é um cenário complexo, repleto de desafios e oportunidades. O sucesso dessa integração é essencial para a competitividade do país no mercado global de minérios e requer investimentos estratégicos, colaboração entre os setores público e privado, inovação tecnológica e planejamento coordenado. O empreendimento do Terminal Portuário de Alcântara é um exemplo concreto de como tais esforços podem impactar positivamente o setor minerador e a economia em geral.

FABRICIO FREITAS, CEO Macro Desenvolvimento

EF352 – Porto Central – Minério de Ferro

A apresentação em questão aborda o projeto denominado Porto Central, que visa atender a demanda por infraestrutura no Brasil.

O empreendimento Porto Central foi concebido como resposta aos desafios enfrentados na implantação de infraestruturas no país. Com previsão para o início das obras em 2023, o projeto tem como foco a construção de um porto multifuncional que possa contribuir para a expansão da capacidade logística do Brasil.

A gênese do projeto remonta a 2011, quando se delineou a exploração de minério de ferro na região sul do Espírito Santo, em colaboração com a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Contudo, a crise econômica de 2008 afetou o avanço do projeto. Visando otimizar a infraestrutura disponível e alavancar a capacidade do porto, o projeto do Porto Central evoluiu para atender múltiplas finalidades, incluindo operações de minério de ferro, grãos e petróleo.

A infraestrutura do Porto Central é projetada com grande enfoque na diversificação das cargas e na eficiência operacional. A primeira fase contempla uma profundidade de calado de 25 metros, permitindo a operação de navios de grande porte. A estratégia inclui o desenvolvimento gradual de diferentes terminais, com capacidade para minério de ferro, líquidos e gás natural liquefeito (GNL), entre outros.

No que diz respeito à conexão ferroviária, o projeto busca a interligação entre o Porto Central e importantes regiões produtoras do país. A alteração no marco regulatório, em 2021, permitiu a autorização ferroviária, viabilizando a construção do modal. A empresa responsável pelo projeto já obteve autorização para desenvolver e licenciar o traçado ferroviário, com o objetivo de estabelecer uma alternativa eficiente de transporte, principalmente para minério e grãos.

O terminal de minério do Porto Central apresenta capacidade para operar até 50 milhões de toneladas, com enfoque nas demandas de Minas Gerais e do Norte do Brasil. No segmento agrícola, o terminal de grãos projetado tem capacidade para movimentar cerca de 24 milhões de toneladas, visando atender à crescente produção de grãos do país.

Para dar suporte a esse projeto de grande envergadura, uma equipe técnica especializada está empenhada no desenvolvimento do projeto e na superação de eventuais desafios que possam surgir. Em última análise, o empreendimento do Porto Central, juntamente com a conexão ferroviária, busca aliviar gargalos logísticos, ampliar a competitividade e fomentar o desenvolvimento sustentável da infraestrutura no Brasil.

FERNANDO CARVALHO, gerente de Planejamento Integrado e Cadeia de Valor – VALE S.A.

A Jornada da Vale – Planejamento Integrado da Cadeia de Valor do Minério de Ferro

Denomina-se soluções logísticas o conjunto de planejamento de produção e vendas de minério de ferro, assim como a gestão de estoques, distribuição e também a administração das operações. Neste contexto, será abordado o tema da agenda, considerando-se as tendências atuais e a mudança na dinâmica de preços, com o término da era benchmark e a ascensão de novos paradigmas nos preços do minério de ferro. Esta apresentação discorrerá sobre as transformações ocorridas no mercado de minério de ferro nos últimos anos, abordando a adaptação à nova normalidade e o enfoque no planejamento integrado.

De 2002 a 2014, observou-se uma transição significativa no mercado devido à intensa demanda da China por commodities e à crise econômica nos Estados Unidos. Este período foi caracterizado pela adoção de índices de preço e a liquidez do mercado, contrastando com a estabilidade anterior. No que tange ao planejamento, a empresa precisou se adequar a esse cenário volátil, buscando equilibrar as operações de produção e vendas em um contexto de expansão.

O sistema logístico da empresa é intrinsecamente complexo, compreendendo três sistemas integrados de produção, dezoito unidades operacionais e diversos produtos de minério de ferro,

caracterizados por qualidades e granulometrias distintas. A estrutura de distribuição inclui três ferrovias e quatro portos de carregamento no Brasil, bem como 17 portos de operações de blending e distribuição na China, visando facilitar o comércio em moeda local. O volume de embarque alcança até 240 milhões de toneladas anualmente, gerenciado internamente pela Vale.

O desafio reside em responder rapidamente às flutuações de preços enquanto se lida com a complexidade da cadeia de produção e distribuição. Neste contexto, o conceito de Integrated Business Planning (IBP), ou Planejamento Integrado, desempenha um papel crucial. Através da colaboração de várias áreas da empresa, incluindo marketing, operações, finanças e meio ambiente, são formulados planos que se alinham com as demandas do mercado e as capacidades de produção.

A cadeia de planejamento é estruturada em diversos horizontes de tempo, desde um planejamento de longo prazo até o detalhamento operacional em escala diária. O Centro de Operações Integradas (COI) é o núcleo central dessa abordagem, responsável por otimizar a distribuição da produção, a formação de produtos e a adaptação às variações do mercado. A busca por uma melhor margem é contínua, unindo as perspectivas de mercado e operações.

A interação entre a área de Global Sales Planning (GSP), que observa o mercado, e o COI, que concentra as operações internas, é essencial para moldar a estratégia da empresa. O escritório no Brasil e a equipe na Suíça asseguram a comunicação global, alinhando as diferentes localizações geográficas. Com essa abordagem, a Vale busca aprimorar sua capacidade de resposta, ajustando-se dinamicamente às mudanças do mercado e otimizando a alocação de recursos.

Neste contexto, à medida que a empresa enfrenta o desafio de otimizar sua cadeia logística complexa, os avanços no planejamento integrado mostram-se como a chave para atingir seus objetivos de eficiência, margem e atendimento ao cliente. A coordenação entre as áreas de planejamento, a análise detalhada das operações e a consideração das tendências de mercado garantem uma abordagem ágil e eficaz na gestão da cadeia de valor da Vale.

DEBATE TÉCNICO

No contexto de um debate técnico sobre a otimização da infraestrutura ferroviária e logística, houve uma discussão envolvendo os palestrantes.

Fernando, expressando seu interesse pela tecnologia, indagou sobre o desenvolvimento do software de controle de operações e planejamento estratégico utilizado na empresa de Fabrício. Ele também questionou como o uso desse sistema afetava o aspecto econômico e se havia um meio de mensurar os benefícios para a empresa.

Paulo, por sua vez, trouxe à tona a complexidade da logística em diferentes etapas do setor petroquímico e agro, considerando a combinação de informações e tecnologia para avaliar dados e utilizar inteligência artificial. Ele mencionou o desafio de medir resultados econômicos diante de variáveis tão voláteis e detalhou o processo de criação da solução de otimização, em parceria com outra empresa.

O debate prosseguiu com Paulo explicando o valor estratégico de um sistema vivo de otimização para ajustar e melhorar planos logísticos de acordo com mudanças frequentes nas condições.

Ele compartilhou estimativas de receitas adicionais, alcançando cifras significativas desde a implementação do modelo em 2017.

A conversa também abordou os desafios regulatórios e de implementação de novos projetos ferroviários, especialmente em um país com grande burocracia. Fernando e Paulo discutiram a demora no processo de licenciamento e autorizações, destacando a necessidade de agilidade para viabilizar investimentos e desenvolvimento de infraestrutura.

No segmento de inteligência artificial, Fernando revelou que a empresa já possui modelos de otimização em protótipo, aprendendo a partir de eventos anteriores para otimizar a frota de navios. Paulo mencionou que, embora a empresa esteja estudando o tema, ainda é cedo para implementar soluções concretas de IA no contexto ferroviário.

Ao final do debate, os participantes reforçaram a importância de trazer mais investimentos para a infraestrutura e logística brasileira, aproveitando oportunidades tecnológicas e integrando diferentes setores. O tom do encontro foi de otimismo e colaboração na busca por soluções para os desafios logísticos enfrentados no Brasil.

Para assistir o debate basta clicar aqui.